quarta-feira, 28 de maio de 2014

Os diferentes bailados

Como sabemos, os ciganos são um povo nômade. Portanto, se adequam a cultura local. Sem deixar de manifestar suas crenças. Dessa forma, encontramos ciganos que usam diversas vestimentas, aplicam diversos costumes, dessa forma. Não podemos dizer que esse ou aquele costume cigano está incorreto. A cultura e os costumes ciganos não devem ser engessados dessa maneira. Ciganos são filhos do vento, e vento não se prende!

Quando falamos da dança cigana, temos portanto diversos elementos culturais dos países pelo quais nossos queridos amigos ciganos passaram que foram acoplados a sua dança. Portanto, a dança cigana na turquia é diferente da dança cigana da Espanha, essa sendo uma nação mais "liberal" a dança cigana espanhola é mais quente, sensual. E a dança turca mais comportada. E a vestimenta da bailarina também difere. Com o homem não é diferente.

O cigano russo caracteriza-se por seus giros e movimentos com as pernas, quando há um bailarino homem, este agachado salta alternando-as; o cigano húngaro tem nos pandeiros e na rapidez dos movimentos seu ponto focal; o cigano grego busca nos pequenos lenços amarrados às mãos o “não movimento” das estátuas e o cigano espanhol que, neste caso é sinônimo de flamenco, busca na cadência dos quadris femininos, a sensualidade latina. Na verdade, apenas alguns passos da chamada rumba flamenca são ensaiados, pois por ser considerado mais técnico e rico, o flamenco merece aulas específicas para os interessados em aprendê-lo.

Em todos estes estilos de bailados o movimento das mãos afigurar-sei-a como muito importante, a rotação suave do punho, num mesmo sentido, com as mãos abertas, o uso de pandeiros, os estalos de dedos e palmas constituem-se como pontos de fuga das coreografias. As saias tem um papel fundamental, na medida em que desvendam cores, pois vários tons sobrepostos dão movimento às coreografias que mostram os pés descalços das mulheres. Os homens usam sempre calças bufantes e calçam botas.

Não foram estabelecidas regras com relação ao figurino de dança cigana, cada qual escolhe suas cores (quanto mais cores, melhor) e modelos, conquanto que estes tenham muito brilho e dêem grande possibilidade de movimentação e movimento, os modelos devem ser confeccionados com tecidos considerados leves e maleáveis (seda, jérsei, cetim). As jóias passam a ser de fundamental importância na elaboração do figurino, da cabeça até os pés - e esta não é uma figura de linguagem - são bem vindas bijuterias que imitem moedas, pedras, ouro. Muitos lenços passam a ser usados, que podem variar desde um de
pequenas dimensões amarrado em uma das mãos, até uma espécie de “lençol” que cobre todo o corpo. Os cabelos femininos e masculinos podem ficar soltos ou presos em forma de rabos de cavalo. Nesta modalidade, o improviso passa a ter um lugar de destaque. O “deixar aflorar a emoção” passa a ser uma regra que apresenta-se como premissa para o bom andamento de qualquer coreografia.

No geral, a dança cigana não é coreografada, por ser livre pela essência. Mas em algumas companhias a coreografia retrata a dança com perfeição.

A dança para os ciganos


Assim como toda a cultura cigana, a dança, é passada agrafamente pelos pais, avós, tias, e familiares mais velhos. não há uma coreografia exata nos movimentos das ciganas e ciganos. mas há, uma forma de comunicação em seus gestos ao dançar que só os ciganos conhecem.

uma das mais importantes atitudes das dançarinas, é proteger as pernas, uma vez que é expressamente proibido uma cigana mostrá-las a estranhos. Se casada, a cigana só as mostrará a seu marido. e se solteira a ninguém mais. Conhecida por ser uma dança extremamente sensual a dança cigana atrai e encanta os gadjês/jurem (não ciganos) e ainda trazem inúmeros benefícios à saúde física, mental e espiritual.

Muito usada em todo o mundo, a dança cigana, sem dúvida é uma “viagem” fascinante, onde os “alunos“ descobrem que a vida não é feita apenas de problemas e sim, de muita festa, alegria e sedução!

A dança é uma homenagem á Duvel (Deus), através do corpo e da alma. Com grande sentimento e força de expressão, traduzimos em ARTE o maravilhoso ritual da dança. Dançamos quando estamos alegres para comemorar uma celebração (casamento, batizado, tudo que traduza a felicidade); dançamos nos raros momentos de tristeza, pois ela nos serve para transmitir sentimentos e emoções.
A dança cigana para os jurem/gadjê é forma de liberação das emoções interiores, de dar vazão aos sentimentos e às íntimas necessidades, através de movimentos corporais. Assim, as danças ciganas podem ser executadas de maneira solitária (um “solo”, por exemplo), em par ou em grupo, de forma profissional ou amadora, festiva, sagrada ou ritualística. Em qualquer forma de procedimento, os dançarinos, reunirão as qualidades técnicas, o preparo físico, a alma e o amor pela dança.
Temos na dança uma de nossas mais vivas e exuberantes formas de expressão. Tiramos dos passos, dos volteios do corpo, do girar, do maneio de cabeças e mãos, do sapatear etc., uma alegria contagiante e uma vivacidade única!

O repicar das castanholas (nas danças flamencas), das palmas (para afugentar a negatividade) e o ritmo dos pandeiros, constituem-se no correto dançar da “alma cigana”. Nossa dança é verdadeiramente a “magia da natureza!”
Nos momentos descontraídos fazemos as “danças livres”; sem regras, onde cada um se diverte como quer, mas nunca se esquecendo do recato e dos limites entre homens e mulheres.
As danças ciganas estão na nossa alma. Expressam luz, amor e alegria. Através delas, vivemos, amamos e crescemos! Experimentamos a cada dia um amor maior pela vida e, na nossa alma, o mais puro desejo de sermos sempre amados por Deus!


Movimentos:

1. O sorriso e o brilho nos olhos têm a intenção de complementar o que está sendo dançado, razão pela qual são tão apreciados nos concursos e festivais. o semblante sério só se aplica às danças sagradas.
2. Os mexer de ombros e a inclinação da cabeça para trás (o que chama a atenção para os cabelos, geralmente longos e soltos);
3. Os braços e as mãos trabalham em vários sentidos: na frente do corpo, levantados em direção ao alto da cabeça, nas laterais do corpo etc.;
4. Os punhos, mãos e dedos têm a característica peculiar de girar (gesto de insinuação e também de captação de energias);
5. Acredita-se que as palmas na dança, afastam a energia negativa para longe.
Fora isso, nos primeiros passos a serem transmitidos aos “alunos” devem atentar para os seguintes detalhes:

Em geral, a postura: deverá ser sempre ereta;
O caminhar: inequívoco, com elegância e a cabeça erguida;
Os ombros: deverão está em conformidade com o tronco;
Os giros: sempre largos e precisos, destacando os movimentos da saia;
Movimentos circulares: devem ser grandes, discretos, porém chamativos. Detalhe importante para as mulheres, se casadas geralmente utilizam um lenço comumente chamado pelos rons de diclô, já os calins uma flor: preferencialmente vermelha presa aos cabelos e do lado esquerdo. Mesmo as jurins/gadjins casadas com ciganos são obrigadas a seguir a tradição, pois na cultura cigana as mulheres seguem seus maridos.

É importante ressaltar que na dança cigana, a dançarina profissional ou não, jamais se apresentará por obrigação. Dançará pelo prazer, pois tem na sua concepção de que a dança deve ser praticada como arte e sedução, aonde lhe é ensinada deste a tenra idade. Aprenderá também que de maneira alguma mostrará as pernas (na dança ou fora dela), já que isto é visto pelo nosso povo “como uma grande falta de respeito”, uma vez que a dança é algo sagrado. Esta é a razão pela qual as roupas são fartas e “protegidas” por baixo, evitando assim qualquer transparência.

terça-feira, 27 de maio de 2014

A Cultura Cigana

Mirian Stanescon, a inspiradora rainha dos ciganos


Por Pili Aliano, especial para o Yahoo! Brasil - Fotos de Sérgio Moraes

A menina dos porquês e que precisaria de dois caixões ao morrer, um só para sua língua, como dizia sua mãe, chegou bem longe. A cigana Mirian Stanescon, que já inspirou personagem de novela, hoje comemora a conquista de um dia nacional para seu povo, uma cartilha com seus direitos e o pagamento de uma promessa: entregou nas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma imagem da santa Sara Kali, a padroeira dos ciganos.
Nesse mesmo dia, sua presença em Brasília, na cerimônia de desincopatilização dos ministros, chamou a atenção por um aperto de mãos flagrado por fotógrafos com a ex-ministra-chefe da Casa Civil e candidata à Presidência pelo PT, Dilma Rousseff. A cigana vestia um traje típico bordado em dourado e com pequenas flores vermelhas, rompendo a sobriedade dos ternos e gravatas predominantes.
Não esquece o carinho com que foi recebida pelo presidente ao entregar a imagem que ela pintou. “Meu Deus, uma ciganinha de barraca recebida pelo poder máximo do nosso país, com maior respeito”, diz a cigana que viveu até os 12 anos em uma barraca na região de Nova Iguaçu.
Mirian, ou Rorarni (como os ciganos mais velhos a chamam), não quer falar sobre previsões políticas. Ela assume, no entanto, que vai lutar para Dilma ganhar. “Até por respeito ao presidente Lula, pela gamação que eu tenho pelo presidente. Eu tenho gratidão por essa mulher também. Foi ela quem assinou o decreto. Acha que eu vou trabalhar para quem?”, afirma, referindo-se ao decreto de 2006 que criou o Dia Nacional do Cigano (24 de maio), assinado por Lula e a então ministra-chefe da Casa Civil.
“É a primeira vez na história deste país que um governo para e ouve as reivindicações do povo cigano. Eu não tenho que ser apaixonada por este homem?”
RespeitoAs reivindicações têm rendido seus frutos, mas a língua afiada e destemida de Mirian não dá trégua. “Há 12 anos ninguém acreditava que este movimento daria certo” , disse este ano na festa do dia dos ciganos na Praça Garota de Ipanema, no Arpoador, na zona sul do Rio. E dispara: “Nunca gostei do termo tolerância. A gente não pode dizer que tolera homossexual, judeu ou cigano. A gente respeita, como Jesus respeitava.”
Assim, com a voz enrouquecida, iniciou seu discurso antes de começar as orações em romanês e abençoar os que estavam presentes, entre eles o ministro Eloy Ferreira, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
No dia 24 de cada mês, Mirian lidera uma corrente de oração pela paz mundial nesse mesmo lugar, chamado templo oficial da santa Sara Kali na América Latina, cuja imagem está em uma gruta natural. Advogada e integrante do Conselho Nacional da Seppir, Mirian diz que conhece muitos politicos, mas que não teve apadrinhamento nenhum. “Eu concorri com 119 instituições (para estar no conselho) e meu currículo e da fundação da qual eu sou presidente venceu e eu estou lá no conselho”, diz, referindo-se à Fundação Santa Sara Kali. “Não devo favor a nenhum político.”
Mirian reconhece que essa exposição tem um preço a ser pago, que nem sempre ela agradou nem agradará a todos, mesmo entre os ciganos, até por ser mulher. Em seu livro “Lila Romai” (Cartas Ciganas), ela diz que, durante toda sua vida, ouviu de seu povo que tinha muitas virtudes, mas que carregaria para sempre o “defeito” de ser mulher. “No entanto, jamais considerei o fato de ser mulher como defeito, não me calei e muito menos me isolei”, escreveu ela, que faz questão de dizer que foi a primeira mulher cigana a se formar em uma universidade no Brasil.
“Eu quero que fique nos anais da história que foi uma mulher cigana que fez as propostas [aprovadas em conferência de direitos humanos e igualdade racial], que foi para a tribuna, que deu a cara a tapa. E tem muita ciganinha para vir atrás. Eu quero ver centenas de doutoras, centenas de médicas”, diz.
Além de ter sido uma “menina dos porquês”, conta que era bisbilhoteira e era repreendida por querer se meter em brincadeiras de meninos. “Mas eu estava me preparando, sabe?” Hoje, aos 62 anos, diz que muitas vezes precisou ter atitude de “macho” para chegar onde chegou. “Minha vó me ensinou que um líder para ser líder tem que ter pulso forte, senão ele quebra os dedos e torce o pulso. Para liderar, tem a hora em que você tem que apertar, senão nego te aperta ou então ele vence.”
Sua próxima batalha, que acredita ser a última, é conseguir o direito à inviolabilidade das barracas dos ciganos, assim como são as residências dos “gajes” (não-ciganos). “A casa do cigano é a barraca, então é justo que, se a polícia vai entrar lá, tem que entrar com um mandado. Não dá para ver as atrocidades que a polícia faz com meu povo, de entrar sem mandado, de maltratar as mulheres.”
Não se sabe ao certo o número de ciganos que há no país, estima-se entre 800 mil e 1 milhão. Mas ela acredita que há muito mais, porque muitos ainda temem o preconceito e não assumem. “Nós tivemos um presidente cigano que morreu sem dizer que era cigano. E, no entanto, cansou de deitar no colinho da minha mãe em Nova Iguaçu”, lembra, referindo-se a Juscelino Kubitschek.
Muitos dos ciganos no país já estão sedentarizados, mas há ainda os que vivem como nômades. São sete clãs no país: Kalderash, Moldowaia, Sibiaia, Roraranê, Lovaria, Mathiwia e Kalê. No Norte do país, há alguns em situação “deprimente”, segundo Mirian, que é Kalderash.
Em sua caravana pelo Brasil ela já visitou 18 estados, levando a cartilha que elaborou, a qual acabou sendo gravada em CD com a voz de uma de suas filhas, pois muitos ciganos reclamavam que não tinham como ler por serem analfabetos.
Às sextas, cartomanteMas o mundo desta cigana não se limita à batalha contra o abandono e discriminação, há também um espaço para a magia. Ela diz que de segunda-feira a quinta é doutora, mas na sexta é cartomante. “Desfaço qualquer olho grande, qualquer magia, qualquer feitiço.”
Atende em casa, um amplo apartamento na zona sul do Rio, repleto de lembranças de seus ancestrais. Com orgulho, aponta para os brincos que aparecem em fotos nas orelhas de sua avó, sua mãe e agora repousam em um copo com água sobre a mesa onde lê as cartas. Quando vai ler a sorte eles têm que estar ali. Ela também oferece consultas online pelo seu site.
As cartas usadas por Mirian foram idealizadas por ela, como manda a tradição cigana, deixada de lado com o tempo. “Antigamente os ciganos desenhavam as lâminas para as ciganas lerem a sorte. Com essa história de comercializar os tarôs e as cartas, ficaram vagabundos. Vão lá e compram pronto.”
Com toda essa trajetória, as batalhas de Mirian não pararam por aí. Ela não gosta de falar sobre o assunto, mas traz no currículo uma liminar, que acabou sendo cassada, contra a TV Globo. A disputa foi por causa da personagem Dara de “Explode Coração” (1995-6), escrita por Glória Perez. A personagem Dara, inspirada em Mirian, representava uma jovem cigana que se orgulha de suas origens, mas se recusava a ficar presa às tradições, entre elas de manter a virgindade. Sentindo que aquilo era uma traição ao seu povo, a cigana Mirian entrou em ação.
“Como ia ficar? Iria parecer para meu povo que eu também os tinha ludibriado? Duas mulheres que ficaram de vigília na minha noite (de núpcias) haviam morrido, mas três estavam vivas. E aí, significa que eu fiz as três de palhaças?”, relembra ainda indignada.
Miriam acredita que essa tradição não mudou, que ainda é respeitada por seu povo. “A virgindade é uma coisa muito séria, porque até na própria magia há certas simpatias que só moça virgem pode fazer”, explica. “Limpar o santo, por exemplo. Só moça virgem pode fazer. Acha que alguém é besta de ser mulher e tocar a mão em santo?”